ANTIDIÁRIOS DE ABRIL XXII

Sete cães ladram às vinte e duas nos longos ecos

da rua vazia. E mesmo as folhas secas hibernam

— na camuflagem das horas que se incompletam.

E tudo cada vez mais se parece com este cérebro

que se altera, enquanto o vírus ergue o seu prédio

invisível e sem maquete. E sem ferro e sem alicerce:

está ali, aqui, sob, sobre, lá, acolá, mas não aparece.

Às vinte e três um silêncio estrondoso resplandece:

não há alma, apenas a luz laranja do poste atravessa

o clímax de uma inércia, onde a noite se estabelece

— no seu lençol de ocres. E de estanhos. E de beges.