Helena
No princípio era fogo
Ardia sem precisar de lenha nova
Subia sem precisar de abano
Simplesmente era fogo
queimando sem parar
Ríamos e nos aquecíamos
Quebrando o frio interior
Contando histórias e cantando canções de ninar
Dançávamos ao redor de uma linda fogueira
Criando laços, criando memórias
E então o tempo veio
As pernas pareciam se cansar
A boca não quis cantarolar
E a chama começou a insistir em se findar.
Assopramos, tentamos
Mas paixão é fogo
E fogo nasce pra apagar.
E apagou. Nela.
Sem resquícios, sem cheiros.
Se foi.
Em mim, as madeiras incompletamente queimadas
Não me deixam esquecer
O cheiro forte de fumaça arde meus olhos e me entorpece
Ainda está aqui.
Não se foi.
Se dói.
Perceba-se, onde há paixão pode nascer amor
E nasceu.
Mas com um braço só.
E a mão que me segurava soltou pra tentar alcançá-la
Eu esqueci de mim.
Eu esqueci que coração não usa proteção
Então caí.
Inúmeros pequenos cacos no chão.
Quebrada, percebo:
Amor não é paixão.
Amor é caixão.
Vida em construção.
Amor vai e fica
Enfinca.
Amor não morre. Transforma.
Decidi cozinhar o meu.
Espero que logo logo ele dê lugar àquilo que
Meu pobre coração tanto pediu, mas nunca recebeu.