Helena

No princípio era fogo

Ardia sem precisar de lenha nova

Subia sem precisar de abano

Simplesmente era fogo

queimando sem parar

Ríamos e nos aquecíamos

Quebrando o frio interior

Contando histórias e cantando canções de ninar

Dançávamos ao redor de uma linda fogueira

Criando laços, criando memórias

E então o tempo veio

As pernas pareciam se cansar

A boca não quis cantarolar

E a chama começou a insistir em se findar.

Assopramos, tentamos

Mas paixão é fogo

E fogo nasce pra apagar.

E apagou. Nela.

Sem resquícios, sem cheiros.

Se foi.

Em mim, as madeiras incompletamente queimadas

Não me deixam esquecer

O cheiro forte de fumaça arde meus olhos e me entorpece

Ainda está aqui.

Não se foi.

Se dói.

Perceba-se, onde há paixão pode nascer amor

E nasceu.

Mas com um braço só.

E a mão que me segurava soltou pra tentar alcançá-la

Eu esqueci de mim.

Eu esqueci que coração não usa proteção

Então caí.

Inúmeros pequenos cacos no chão.

Quebrada, percebo:

Amor não é paixão.

Amor é caixão.

Vida em construção.

Amor vai e fica

Enfinca.

Amor não morre. Transforma.

Decidi cozinhar o meu.

Espero que logo logo ele dê lugar àquilo que

Meu pobre coração tanto pediu, mas nunca recebeu.

Paula F Nascimento
Enviado por Paula F Nascimento em 21/04/2020
Reeditado em 13/07/2024
Código do texto: T6924254
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