As flores da Praça Paris

não são camélias

são bromélias

não são simétricas

são elétricas

não são espíritos

são cantos líricos

não são Messalinas

são esquinas

não são berçário

são cenário

não são desnudas

são Judas

não são dezenas

são menas

não são Teresinhas

são andorinhas

não são Heloísas

são poetisas

não são Marias

são noite sem dias

não são Letícias

nem notícias

não são guerreiras

são guerrilheiras

não são do Acre, São Paulo, Pernambuco

são do vasto mundo eunuco

não são teorema

são clara e gema

não são o arcanjo

são desarranjo

não são dinheiro

são gosto e cheiro

não têm origem

sobrevivem

não cobrem a cabeça

nem depressa

(me assustam com sua beleza

não de jantar, mas de sobremesa)

não são astutas

são permutas

não choram cortando cebola

têm outro tipo de escola

não acham seu aluguel lógico

alugam-se em código

não amam o quanto se paga

por uma sórdida vaga

não são pesquisadoras da NASA

(quem as espera em casa?)

não usam perfume barato

escondem as mães no sapato

não gostam de homem autoritário

estão no deserto sem dromedário

não espere que as flores falem

não são flores de Woody Allen

(as flores da Praça Paris

despetalam-se, receptivas,

em bonecas de verniz

com almas alternativas)