Sonetos Ingleses

É POR TEMOR QUE A INTELIGÊNCIA SE CURVA

É por temor que a inteligência se curva

à horda invisível cuja força em ti ecoa

e acua-te, amigo, quando deixas somente

a candura entrever-se em seu sorriso.

E ocultas o leão da própria secura,

até que ruja em seu doce coração

somente conveniência e paúra.

Por temor, a coragem caduca, recua.

Num tempo em que tememos a mentira,

tu cultivas delicadezas em demasia

e faz da algaravia tua verdade augusta.

A mansidão, agora, amorna em ti o que já havia,

e ensombra a inteligência, sua vassala e puta.

E tu, entre eunucos tantos que tanto te agradam

Estás. Com a paixão dos que não se calam nunca.

SÓ A TERRA PODE SER MAIS FECUNDA QUE OS POBRES

Quem há de ser mais fértil que nós, homens pobres?

Quem, dentre as mulheres, mais fecundas serão

Senão nossas mulheres a procriar irmãos?

Multiplicamo-nos, ainda que nada nos sobre;

Todo pão se reparte mais à mão dos pobres.

Toda prole redobra-se nos filhos dos filhos;

E assim tergiversarmos a morte em tantos rostos

Iguais aos nossos, só por nós reconhecidos.

Se a vida se dá a quem mais a ama consorte,

Só a terra pode ser mais fecunda que os pobres.

Dentre os seres que sobre a terra se movem,

Nenhum há de maior prenhez que uma mulher pobre

A gerar em seu ventre o tempo que à frente se lança,

Feito um pai em andança levando o filho no colo.

PORQUE ÉS JOVEM, TU PODES AMIGOS FAZER

Porque és jovem, tu podes amigos fazer.

Inda podes fazê-los se os fizer por si mesmo.

Se com eles amor comum partilhas ter,

Ou se segredas a eles esmeros e espelhos.

Velho sereis se não puderdes mais fazê-los?

Talvez, a vós direi na vetustez patente.

Amigos quem os fez em tempo os fez em zelo

Para vê-los sempiternos à revelha gente.

Quanto mais velho mais veloz vem-nos o Tempo;

Em dezembros, dez anos sem os perceber.

Fingir ser moço não distrai do Tempo a vez.

Se mascaras o falso jovial ao rosto,

Estancas o ponteiro do Tempo sotoposto

Ilude-te nas coisas imóveis que vês.

Inda podes amigos fazer, jovem moço.