ESPERANTO
Quero
Em som de uivo ou bolero
Piano, gemer do berrante
Certeiro, balbuciante
Um falar de muitas vozes...
Com meus amigos, algozes
Sons que tecem a rotina
Quero conversar com a sina
Que vem do passado e aponta
Um rumo que não dou conta.
Num doce som de flauta doce
Como se possível fosse
Com flores e minerais,
Com anjos e animais
Na acústica de catedrais.
Num som de amor bandoleiro
Quem sabe o sentido primeiro
Sons confusos indistintos
Dos impulsos dos instintos.
Em tom ferino, metálico
Do poder do sonho fálico
De submissas instâncias
Da vida em reentrâncias.
No canto das carpideiras
Batuque das lavadeiras.
Quero um dizer sim de gestos
De mãos em ilusão de afetos
Doçura do Senhor dos Ventos
Que apesar do intento
É do vento prisioneiro.
Quero falar com o inteiro
Ouvindo o som da metade
Num soluço de saudade.
Sentir o orvalho chorar
Na rosa, o gozo de secar.
Dizer em voz tão macia
Toda mentira em magias
Em verdades, nostalgias
Fontes de muitos encantos
Todos os gritos e cantos
Aos quatro cantos do mundo
Ao nada do azul profundo.
Quero ouvir os cristais
Amor em aquarela de ais
Eco triste da montanha
Do mar a mensagem estranha.
Falar em qualquer idioma
Rasgando axiomas
Em todo e qualquer som de espanto,
Que bom!... Não vingou o esperanto!