EU SOU MINHA ALDEIA
Eu não tenho um nome
o que tenho é uma voz
e nela canto minha aldeia
como se fosse o mundo
a beleza que mora nesse mar
é o que dá o gosto às suas águas
piso nessa areia tão quente e macia
porque sei que são grãos do tempo.
Eu não tenho um endereço
olho as ruas dessa cidade
e consigo encontrar quintais
caminho por essas calçadas
como se meus ancestrais
estivessem ali enterrados
piso de leve para coreografar
o coração que pulsa nos sonhos.
Eu não sou um homem
eu sou uma linguagem
e os meandros dessas formas
engendram certos mistérios
procuro no meu verso tímido
o segredo desse pertencimento
e invento bonitos encontros
por esses lugares que caminho.
Eu não sou um habitante
me sinto, na verdade, um amante
dessa pérola que me refugio
traduzo as tardes como poesias
de um pôr do sol infinito
mesmo sendo tão pequeno
me percebo do tamanho de um rio
prestes a desaguar, meu Guarujá.