poema-crônica de sol e lua

era final de tarde

e de tanto ler

em poemas de amor

as dores alheias

propus ser casa

para o meu eu lírico habitar

de vez e para sempre ou

até a poesia acabar!

ele não aceitou.

entendi a sua alegação

de que minha casa tem

apenas uma porta, mas

muitas janelas para ver

o mundo passar.

agora meu eu lírico é líquido

eu o engarrafei. não como

o gênio! mas como wisque,

de Vinícius de Morais,

"o melhor amigo" do poeta

o cachorro engarrafado!

em noites de lua cheia

quando vou pescar

pego indefeso meu

eu lírico na garrafa das

boas lembranças

tomo uns bons goles

fico em paz com

a minha natureza de lua

jogo minhas linhas

na correnteza do rio

ouço o canto das águas

cortando o silêncio da noite

abro minhas janelas para

ver a vida passar

como água corrente.

a vida é boa, mas

é tarde demais

para novamente

abrir a porta!

Nômade
Enviado por Nômade em 10/04/2020
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