poema-crônica de sol e lua
era final de tarde
e de tanto ler
em poemas de amor
as dores alheias
propus ser casa
para o meu eu lírico habitar
de vez e para sempre ou
até a poesia acabar!
ele não aceitou.
entendi a sua alegação
de que minha casa tem
apenas uma porta, mas
muitas janelas para ver
o mundo passar.
agora meu eu lírico é líquido
eu o engarrafei. não como
o gênio! mas como wisque,
de Vinícius de Morais,
"o melhor amigo" do poeta
o cachorro engarrafado!
em noites de lua cheia
quando vou pescar
pego indefeso meu
eu lírico na garrafa das
boas lembranças
tomo uns bons goles
fico em paz com
a minha natureza de lua
jogo minhas linhas
na correnteza do rio
ouço o canto das águas
cortando o silêncio da noite
abro minhas janelas para
ver a vida passar
como água corrente.
a vida é boa, mas
é tarde demais
para novamente
abrir a porta!