PECADO
O teu pecado aportou em mim
Como uma febre sem remédio
Nessa carne que tantas vezes
Foi condenada ao exílio.
E fui me refugiando
No limiar de tuas palavras.
Já fui feliz, hoje sou um náufrago
A me envenenar em tuas entranhas
Não quero, serpente maldita,
O fruto desse meu degredo
Quero enfastiar-me no meu vazio
Aqui onde o vento não tem espera.
Sim, já fui feliz outrora
Hoje sou um cadáver falante
Buscando, cego, o perdão
Onde não encontro arrependimento
Nos meus ombros levo desertos
De culpa e de sal.
Há tempos, realmente, fui feliz
Hoje sou poesia
E a lâmina de meus versos
Não tem o sabor de um tempo
Sou um órfão da escuridão
Tecendo a morte em vida.