A DOR
À dor não cabem regulamentos
nem prisão, só o céu cinzento
e a imensidão do horizonte
para que ela corra livre
com suas pernas nuas
e atravesse montes
e atravesse ruas
avidamente
à dor não tragam jamais panos quentes
nem a deixem ser vista ou ouvida
por quem nunca a sentiu
pois quem a percebe
aprende a conviver
com ela sempre
e a deixa livre
a correr...
pelas veias, alma, corpo, coração
e dominar a vida, a imensidão
como se ela fosse parte
integrante de nós
e se livrar dela
fosse em vão
e assim é:
a dor invade, domina, tortura
torna a vida densa, escura
esconde o lindo sorriso
tira o brilho do olhar
vira companheira
amiga de bar
traiçoeira...
Mas um dia
ela irá nos deixar
quando o coração finalmente
se entregar a um imenso e forte amor
então, partirá para sempre, com muita dor
e levará com ela toda a angústia, todo o vazio
e nunca mais nos acompanhará assim, pelas ruas
com sua sombra negra, ar pesado e suas pernas nuas...