POESIA
A poesia me envolve,
Seduz, penetra...
Como um mito,
Rasga meus olhos
E me dá o dom da profecia.
Mas depois da performance orgástica,
Retrai-se como um punho
Cerrado no ventre
E me traduz ao avesso
Nas contrações dos obscuros desejos.
Um soco doloso, um exagero, uma simulação...
Reverbera e sangra
Parto difícil...
Transcende alma à luz do corpo desembrulhado
E me abandona
Nas veredas insones da linguagem
Com um verso natimorto
Pendurado ao peito ressecado
E com um grito profanado
Na cicatriz de minha alma em cruz.