Eu, o vírus, o mundo

As gotas de chuva batem delicadamente contra a telha

Alguns carros passam estranhamente devagar pelo asfalto molhado

É confortável. Estou em casa.

Um domingo eterno vem perpassando

Junto com janelas acesas em prédios distantes

Minha luminária acesa acima de uma folha de papel em branco

Minha vida em branco.

Estou preso em casa

Preso em minha cabeça

Nos prédios distantes

Iluminados, fugindo dessa escuridão, dessa calmaria não costumeira.

Nos desacostumamos a ficar em paz

Sabemos disso

Por isso não mais ficamos

Em paz

E a calmaria, a delicada chuva que traz seu aroma de terra molhada

Nos remete a tristeza

Ao atual problema de estar só

Estando todos só

Nas casas cheias, iluminadas

Vazias e escuras

Aos bares fechados, quase tão iguais antes

Pela diferença das cervejas, agora cheias, somente.

O vírus da realidade se espalha

A ignorância floresce.

Seu belo aroma vem matando como sempre.

Hospitais lotados caem juntamente com a humanidade

Estamos doentes

Somos o próprio vírus

O pó de uma terra que nunca foi nossa

Calamidade universal.

O mundo que construimos é o próprio monstro de nossa infância

E não há como se proteger embaixo das cobertas.

Não há como se proteger.

É um mundo muito difícil de se manter sóbrio.

Petito
Enviado por Petito em 29/03/2020
Código do texto: T6900842
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