Quarto Branco
Aguardo sentada no chão desse quarto vazio
Ouvindo o mudo estalar de móveis desprovidos de visibilidade em expansão.
Meus olhos,
fixamente colados no espelho parecem enxergar
Embassadamente aquilo que um dia pude chamar de Eu.
Paredes coloridamente brancas guardam marcas transparentes de catástrofes vividas.
Construído sobre rangidos, parece ter nascido destinado ao fim.
Ainda estou sentada.
Conto uma a uma as cicatrizes inaudíveis que o espelho ousa refletir.
Lembranças:
Vagam entre consolo e apunhalada.
O quarto está tão frio que posso ver o ar sair de mim
aos poucos como quem não quer ser percebido.
Sem percebê-lo, percebi que as irreais prateleiras estão vazias,
Que as linhas dos livros que ali não estão, são sem palavras
E que a foto do falso porta-retrato não existiu.
Uma gota irrelevante está forçando para cair dos meus olhos
E eu estou forçando para não deixá-la sair.
Gloriosamente o combate é interrompido.
O novo comprador chegou.
Espero, vagamente, que ele perceba que aqui nunca se viveu.
E que eu, me esquecendo de mim, entenda que o quarto sou eu.