Irrevogável

no fio que conduz meu desejo

entre a realidade e o que vejo

tomo distância e contemplo, em silêncio

a incoerência da narrativa que criei

desde que em ti pousei os lábios.

contraditoriamente (ou não)

o que sinto é legítimo e irrevogável.

há algo mais palpável

do que o meu particular intangível?

não sei. nado indistinto no mar

das perguntas que me agitam.

tempestades.

sei, entretanto, da paz

dos teus olhos feios e grandes

e dos teus gestos simplórios

onde vi prontamente o ouro

e a redenção de todas as guerras.

sei da tua constância pétrea e amorfa

matéria prima através da qual

pari a beleza muda de uma flor eterna.

ordenei louros para adornar-te

e como num sonho de névoas brancas

tu chegaste, vitorioso e incauto.

eu, deveras irresponsável

olhando-te cruzar fronteiras

eu, profano e ciente de tudo

que tu não ousarias supor, por medo;

tu. um amor que venta pelas janelas.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 28/03/2020
Reeditado em 29/09/2021
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