Irrevogável
no fio que conduz meu desejo
entre a realidade e o que vejo
tomo distância e contemplo, em silêncio
a incoerência da narrativa que criei
desde que em ti pousei os lábios.
contraditoriamente (ou não)
o que sinto é legítimo e irrevogável.
há algo mais palpável
do que o meu particular intangível?
não sei. nado indistinto no mar
das perguntas que me agitam.
tempestades.
sei, entretanto, da paz
dos teus olhos feios e grandes
e dos teus gestos simplórios
onde vi prontamente o ouro
e a redenção de todas as guerras.
sei da tua constância pétrea e amorfa
matéria prima através da qual
pari a beleza muda de uma flor eterna.
ordenei louros para adornar-te
e como num sonho de névoas brancas
tu chegaste, vitorioso e incauto.
eu, deveras irresponsável
olhando-te cruzar fronteiras
eu, profano e ciente de tudo
que tu não ousarias supor, por medo;
tu. um amor que venta pelas janelas.