Poema da Quarentena

Como requer o mundo,

fico em casa. Saio para tirar o lixo,

mais nada. Como, me alongo, respiro fundo,

como fazem as feras trancafiadas.

Presa sem barras, ofereci panteras e leoas em sacrifício,

mato a selvageria dentro de mim, as minhas correrias diárias,

sangue bruto, limpo, de bicho, mancha o tapete da minha sala.

O pelo já frio das crias sacrificadas é para esquecer o lado de fora,

minha selva de fios e pombas e prazos e notícias e parentes e risadas,

da qual preciso ficar longe agora,

entre o limbo e o nada.