Divina Melancolia

Indivíduos condenados a ser felizes

Presos às grades da miséria mental.

Acorrentados pelas sombras refletidas na parede,

Amordaçados em seus grandes sepulcros dos quais proclamam ter orgulho.

Pregando a verdade, a luz que extirpa qualquer escuridão

Elevando o homem ao paraíso

E jogando os perversos no mar do tormento eterno.

O inimigo das almas age em brechas,

Assim declaram os portões escancarados.

Das suas bocas sai o fel, o amargo bafo do enxofre.

Em suas almas estão as lanças que perfuram e matam em nome do amor.

Quantos enigmas haviam naquelas palavras cruzadas.

Vi tudo isso enquanto tinha meu pescoço na berlinda

Pagando pelo meu pecado.

O mais terrível dos pecados,

A liberdade.

Talvez eu não tivesse uma idade média para entender aquilo,

Era uma forma tão brutal de impor respeito.

O respeito através do medo, um ato covarde.

Após tapas, socos e torturas naquela praça pública,

Minha punição foi cumprida

Tiraram-me da vergonha

E debochando disseram:

“Vá e não peques mais!”

Andei por horas, buscando distância daqueles fariseus.

Até que encontrei um bar.

Não me contive e entrei,

O som do blues cativava o ambiente,

Vi muitas coisas ali, mas algo me chamou a atenção...

Na mesa do canto estava um ser solitário

Sua única companhia era uma dose de conhaque

Um grande aperto lhe sufocava os pulmões

Que contraíram-se como se um segurança estivesse montado em seu peito

E com os braços em seu pescoço, o tirasse qualquer chance de alívio.

Logo o reconheci.

Era Deus torturado em seu inferno, o seu amor pelos homens.

Pedroso Poeteiro
Enviado por Pedroso Poeteiro em 23/03/2020
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