A epopeia da língua

I

Nesse tempo cheio de vítima

Tento encontrar poesia no ser que rima

Pois, meu coração é inspirações caída

Aflora um beijo nos lábios da menina.

II

Meu escrever é de gramática abobalhada

E tenho por mim que cada rima é Fingida

Pois, nas palavras tenho escape, boa saída

Mas, muito mais, meu poemar é alegria.

III

Às vezes me perco em frase de louca

E meu rimar nesta alma faz poesia doida

E no cerne mais negro tenho sonhos na moita

Encontrando a luz das palavras me transmuto na coisa.

IV

Tenho na alma o zelo do ditar pancada

Cada ideia do meu "Eu" é uma facada

Por isso, busco inspiração na cama

E fazer amor com as palavras me deixa ser menos anta.

V

O rimar que vem em mim é como um soco

Sobe a consciência e entorna bom molho

Misturada a rima é preparada com alho

E depois, sai da boca grotesco pecado.

VI

Ninguém me terá por um pobre Santo

Pois, em mim nasceu Profano cornos

E a vida com sua beleza me traiu com oito

Porquanto, rimar é tudo que sei, mas, ao amor faço-me moco.

VII

Sou passarinho que ainda vive no ninho

Busco na vida a verdade de bom amigo

Mesmo que minha rima envenene-me com vinho

Pois, a vida e as perdas gritam ao mundo: Quero carinho!

VIII

Meu ser é nu, e sonho com nobre linho

Na perdida solidão do "Eu" ouvi-se meu latido

Tenho por mim mesmo, que não sou poeta, mas, miserável vadio

Que veio ao mundo à pensar ser sabido.

IX

Lá fora tem um verde e pequenino Duende

Ele diz: Que meu poemar pertence a Serpente

E meu rimar é diabólico; algo de um verme

Fiquei contente, pois, a "Língua Portuguesa" para Satã serve.

X

Me escondo atrás do fresco Horto

E percebo a melancolia do negro mucamo

Tem todo poeta as saudades do idioma Banto

Até que vem a donzela branca e lho rouba ao colo.

XI

Meu existir é ilusório, mas, jamais falso

E espero a chuva das rimas passar no "Eu" do barraco

Querendo uma paixão de saliente pecado

No meu "Ego" Infernal ao destino empresto todos os dados.

XII

Da minha língua brota sanguinária espada

E com violência rimo a plebéia classe de "Raca"

Visando contemplar a formosura da poesia feitiço de fada

Tal é a vida de um escritor; ver sua: "Obra-prima" nas mãos de macaca.

XIII

Do Sul vem ao meu ser Místico assobio

Tenho a nudez da canção no ourifico e estreito do soberbo bico

Buscando meu rimar sou espírito ânímico

Essa vontade de pular em cada um dos Sonhos de lirismo Davídico.

XIV

As letras poderiam ser de tinta de leite

Para nunca mais a vaca do destino aos poetas dar coice

Poderia eu desfrutar das núpcias com a Língua Portuguesa essa noite?

E me perderia de propósito em Portugal no além, rumo ao seu Leste.

XV

Ó poesia de rígida tão bela escrita com lasca do bambu

Perdido estou nas asas do imaginar deus Urubu

Mergulhei no mar das lembranças e estou dormindo na barriga do Atum

Querendo muito rimar escrevo nos meus sonhos com sangue de Urucu.

XVI

Ó como tem delícias qualquer Bela poesia de vida

O amor tem por Donzela a língua garrida

É destempero escrever a minh'alma emoções e paixões ardida

Ó chame qualquer escrever na solidão dos beijos poesia: "Bendita".

XVII

Queima em mim este Sol intenso e vitorioso fogo

Fui achado Vivendo por muitas eras na boca do Boto

E mesmo escrevendo meu poemar, não perdi a virgindade; mas, sou profano moço

Preparado sou com as palavras; para ser degustado em risoto.

XVIII

Ó encantante e santíssima sabedoria, rubra

Como magia de Bruxas nos seios empinados de bela, Angélica

Com tempero de poemar essas palavras, Ó doce agonia

Meu pecado é ser brasileiro e ter o privilégio de ser falante da "Língua Portuguesa"; idioma da terra que não deixou de ser em cada poeta: Paradisíaca.

(...)

O sonho termina no acordar, e, no acordar pranteamos nossa realidade. A felicidade consiste em amar cada caco dos sonhos; que nos fazem vivos.

Francesco Acácio
Enviado por Francesco Acácio em 20/03/2020
Reeditado em 20/03/2020
Código do texto: T6892789
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