Pneumotorax de tensão

Puxo as palavras da mente, na esperança que meu coração as bombeie para as minhas mãos.

Mas no meio do caminho, as letras se separam. Consoantes para um lado, vogais para o outro.

Sinto a adrenalina caminhando pelo meu corpo, em busca dos fugitivos.

Cada segundo é essencial! Meu peito fibrila, entre batidas E não batidas. 

Para cada batida, a junção de letras numa sílaba, e das sílabas, palavras.

No papel as transcrevo, suando frio:

-"ME-DO"

-"EN-RE-DO"

A vista embaçada me impede de continuar enxergando.

(Desmaio)

As letras caminham desordenadas, livremente nos meus pulmões.

As tusso para fora, em palavras aleatórias! 

-"SOSSEGO"

Sossegar… preciso sossegar! 

(Tosse)

-"DESESPERO"

O sossego não vem, mas preciso descansar!

Agora já não sai mas nada! Estou cada vez mais distante.

Vagueiam alguns versos na minha mente, mas já não posso escrevê-los, só pensá-los: 

Que sossego desesperador!

Traga-me o medo, o terror...

Sem surpresas mórbidas, por favor

Sem disfarces, sem enredo, somente dor."

Minha mente se esvazia, as palavras se espalharam e se quebraram no meu sangue. Meu coração já quase não bate!

(Suspiro)

Não sei o que dizer, não sei o que pensar, mas digo e penso qualquer coisa.

(Silêncio)

Toma conta de mim o êxtase! Vivi meu último poema! 

Seu nome? Pneumotórax de tensão!

Álvaro De Azevedo