Teus lábios
Do beijo ao abraço
a minhas mãos
apertando tuas costas
cada segundo próximo
incendeia espalmadas
espáduas escorrendo
por cada vértebra
meus dedos inócuos
não satisfeitos
invadem exploram
por baixo do tecido
da pele à fome
do toque do tato do teu corpo
escavando com as unhas
a carne os músculos os ossos
as células os átomos
quilômetros de metros de centímetros de milímetros
até o centro
o núcleo
o coração
o
ser senciente sensível
ondula e freme
num gemido abafado na minha clavícula
cedendo ao avanço
dos meus dedos sedentos
entre as coxas que se abrem
em silêncio
um convite consentido
na mudez do beijo
.
.
.
enquanto as línguas se abraçam
enroscadas num enlaço
no nó de nós atados na confissão
do nosso segredo da nossa entrega
sinto a maciez dos teus
lábios lábios
suaves como nuvens
úmidos como o sereno da noite quando atinge
seu perigeu
na lentidão compassada
num tempo outro
anterior a Saturno
onde tempo não existe
e posso saboreá-la
com demorada aptidão
delongando-me longapersistentedeliciosamente
em provar teu gosto gravá-lo nos
sentidos da sinestesia da memória
elucubrar no áspero da língua
a trajetória a trilha os caminhos
cada acidente geográfico que me encaminha
desvia sobe desce vai vem avança retrocede
tendo como norte teus lábios
órbitas cujos centros de gravidade me atraem
sempre para si
donde deito beijos vagarosos
es pa ça dos
donde verte
generosa
com delicadeza
teu mel doce manjar dos deuses
almíscar puro inigualável
explodindo como bomba nucleares
como um terremoto que sacoleja o corpo
a morte a cavalgadas
como um cavaleiro do apocalipse
traz consigo o gozo que enteia
entrelaçada na minha barba
filetes de saliva
que ligam meus lábios aos teus
saborosas sôfregas sensíveis sensações
desatina num lapso de inconsciência
sem medir consequências
no deserto entorno de qualquer alguém
só resta eu e tu
em volúpias luxuriosas apaixonadas
não consigo parar de te beijar