Let down
Sentado. Preso no meu quarto.
Cercado do silêncio mais familiar de todos.
Ninguém se importa.
As ruas seguem caladas,
uma e quarenta da madrugada...
o que eu podia esperar além disso?
Um dia talvez eu crie asas
pra sair por aí
olhando toda essa merda de cima
e enfim, me sinta em casa
longe dessas tantas coisas que só me puxam para baixo
pelo pé
e enfiam minha cabeça no vaso sanitário
e dão descarga,
até o talo.
Talvez um dia eu me erga das cinzas de uma ressaca
e escreva algo que as pessoas realmente leiam
e aí digam
“Taí um cara que sabe sentir as coisas”
Mas as minhas palavras vão se acumulando,
por enquanto
num canto escuro da internet,
e eu continuo sozinho...
ouvindo música
bebendo cerveja
e ocasionalmente, tentando me enganar
permitindo que passem pela minha vida
mesmo que só para espalhar os lençóis da minha cama.
O amor é o que sobra quando a cama está vazia
e não mais suada. – Um amigo certa vez me disse, não exatamente com essas palavras -
Pois bem,
nunca parei para dizer a ele que discordo respeitosamente.
O amor transcende a cama e os lençóis
suados ou não.
O amor transcende qualquer engano,
que a paixão sempre deixa passar.
Bem,
olho pela janela,
esperando o próximo engano.
e enquanto a campainha não toca,
sempre haverá a cerveja
e as folhas em branco
no computador
esperando mais um rabisco
e madrugadas como essa
em que o sono
reluta em chegar.