DELIRIUM TREMENS

Andou como andaria o Homenzinho Torto

Quando a canção acaba -- só cartola,

Fraturas inventadas e bengala

Medindo o dorso de insones calçadas,

À margem de sarjetas e rejeitos

Sem brio, com trejeitos e sentenças.

Um passo ou dois no rumo do que passa

Feito remorso ou chuva indesejada.

Deixou que o dia por si só levasse

Tensões, esperas, cinza nos lamentos,

No rumo do que passa feito chances,

Quebrantos, decepções que se acumulam.

Conferiu seu discurso confirmando --

A História sempre solta Barrabás.

A multidão memórias dum futuro

Sem face nas tribunas mais loquazes,

O bando que de vez em quando pensa

-- ah, como ele sentiu a sua falta!

Os séculos dum mundo que implodiu

Retornam pelas frestas da retórica,

As palavras ao vento que insiste em circuitos

Sem fim -- nada mudou à luz de estrelas

Defuntas, nada pode persuadi-lo

Do dia avesso em tudo ao seu delírio.

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 17/03/2020
Código do texto: T6889746
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