Ocupação

Ar pesado e úmido. Um odor forte de esgoto. Janelas que nunca se abrem pro sol. Amontoados, espremidos, esquecidos.

Portas. Muitas. Velhas, lascadas, sem cor.

Números desordenados, grafitados aqui e acolá tentando dar ordem ao caos.

Insetos. Pelo chão. Pelas paredes.

Muitos sons. Um profusão de distintas e não identificáveis canções.

Escadas e becos e emaranhados de fios a tecer os caminhos.

Multidão de anônimos. De esquecidos. De renegados.

Mas ali uma porta me interessava.

Bati. Um sorriso sincero e um par de olhos assustados apareceu.

E logo outro, também conhecido sorriso, aparece.

São um pouco de luz naquele lugar cinzento e frio.

(Poesia feita após uma busca por dois alunos numa ocupação conhecida por Galpão. Vários galpões de uma antiga fábrica foram ocupados por inúmeras famílias que se aglomeram em moradias precárias)