Baixada Santista,
Morro do Macaco Molhado,
Guarujá, São Paulo, março, 2020
terça feira, dia 3,
tsunami de lama,
macaco enlameado,
macaco soterrado,
rochas de 5 mil kilos,
barracos morro abaixo,
famílias dizimadas,
tragédia anunciada,
não houve fatalidade,
ocupação desordenada,
na falta de política pública,
barracos clandestinos,
abrigando clandestinos,
poucos são cadastrados,
idosos desassistidos,
jovens desempregados,
ambulantes, diaristas,
são pobres ao deus-dará
soterrados feito lixo.
Helicópteros sobrevoando,
são os mesmos políticos solidários,
verdadeiros abutres consternados,
bem longe da lama, engomados.
Enterrar favelado no morro
e listar ele como desaparecido,

custo zero, sai mais barato,
moradia decente custa caro,
fogo morro acima,
água morro abaixo,
quando não morre queimado,
pobre desaparece soterrado.
É a luta desigual pela vida,
esperar em Deus é a saida.

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)

Livro: A poesia da calçada não vende ilusão (Pág 14)

Scortecci Editora 2020