DE DENTRO DE MIM

De dentro de mim correm várias primaveras

Que resfólegam de todas as terras

Ávidas por transformações,

Dentro de mim abrem-se só pobres janelas

A buscar pelos sóis em quimeras

Tão sedentas de insolações.

Dentro de mim todos os fugidios medos

Insolados de múltiplos desejos!

Que nunca se ousaram brilhar...

Mais um verso torto em devaneio

Como se fosse da vida um torneio

De flores parcas sem desabrochar.

Dentro de mim gritam todos os espantos

O meu e os demais versos em branco

Dum entorno parco de ilusões,

As vidas descalçadas de estradas

O asfalto duro das tantas jornadas

Rescaldos das mundanas seduções.

Dentro de mim sinalizam-se as doces veredas

De placas rotas de qualquer certeza

Das idas primaveras... sem nunca a se ousar,

Pelo vil projeto as flores decaídas

Em terra de sementes soterradas

-todas prometidas!

De vidas nunca vindas, de futuro a se velar.

Dentro de mim...há um "status" vigilante

Pena que corre livre , nunca vacilante

Mãos que tentam as dores suplantar,

A minha poesia nasce em terra lancinante

Que num ínfimo verso verdejante

Flores ainda tenta resgatar.

Ah...de dentro de mim, a despeito

De toda a minha dor no peito!

Vem letra de alento em pronta construção,

Sempre uma rima solta a me voltar perdida

Suplicando ao verso por tenaz guarida

Na primavera lírica,flor em brotação.