DIA

Esse dia é reles --

"É todo deles" ladra alguém,

O tanto que não conta

Nem sendo pranto enquanto canto.

Troca de peles, esse dia

Traja ultraje.

Esse dia é só

O que dele apanhamos --

Luz por fresta

Ou o que dela ainda resta,

Reflexo que estranhamos

Numa festa de espelhos disléxicos,

Razão do que não presta,

Uma nódoa indecente

Em mortalha impecável,

Uma afronta ao bom senso

Do sonso,

Ínfima suspeita do imenso.

Uma mágoa requentada

Sem requintes, meio à toa --

Ilegítima,

Bastarda,

Uma cova funda

Numa treva fecunda

O bastante,

O suficiente,

O aceitável --

É o que se estima.

Uma vida toda

À desafortunada roda

Nesse dia que se arvora

À própria mão que o trai e poda.

Esse dia é reles

"É todo deles" ladra alguém,

O tanto que não conta

Nem sendo tanto, trapo ou manto.

Troca de peles, esse dia

Traja ultraje,

Sabe a ridículo,

Mira fugas impossíveis

Em circuitos pertinazes.

Anda sem memória

Pois é tão só

O que disseram que seria

Num lado certo da escória

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 14/03/2020
Código do texto: T6887868
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