DIA
Esse dia é reles --
"É todo deles" ladra alguém,
O tanto que não conta
Nem sendo pranto enquanto canto.
Troca de peles, esse dia
Traja ultraje.
Esse dia é só
O que dele apanhamos --
Luz por fresta
Ou o que dela ainda resta,
Reflexo que estranhamos
Numa festa de espelhos disléxicos,
Razão do que não presta,
Uma nódoa indecente
Em mortalha impecável,
Uma afronta ao bom senso
Do sonso,
Ínfima suspeita do imenso.
Uma mágoa requentada
Sem requintes, meio à toa --
Ilegítima,
Bastarda,
Uma cova funda
Numa treva fecunda
O bastante,
O suficiente,
O aceitável --
É o que se estima.
Uma vida toda
À desafortunada roda
Nesse dia que se arvora
À própria mão que o trai e poda.
Esse dia é reles
"É todo deles" ladra alguém,
O tanto que não conta
Nem sendo tanto, trapo ou manto.
Troca de peles, esse dia
Traja ultraje,
Sabe a ridículo,
Mira fugas impossíveis
Em circuitos pertinazes.
Anda sem memória
Pois é tão só
O que disseram que seria
Num lado certo da escória
.