“Círculos do desejo”
“Círculos do desejo”
A calma precipitação se anuncia
Ao léu secreto do horizonte cinzento
E o desejo se abandona da alma vazia
E lega das nuvens a cor do novo alimento
E em meio à aflição intensa da terra úmida
Inunda as reentrâncias da rosa em seu momento
E flutua as folhas, deságua na poça translúcida
E se amontoa na relva esmaecida e lúcida.
Mas, açoitado pelo tempo e seu chicote silente
Se evapora ao largo da violência do sol
E queda no vão invisível do vento inclemente
Até retornar sublime ao ventre de seu arrebol
Pois, ao observar o vai e vem da terra,
Vê a secura agreste e fria do deserto
E parte em sua nau de bordejo em primavera
Fértil nas entranhas do amanhã incerto
E o desejo vai, e ressuscita, e se dissipa à vera...
Dilúvios de dor ou de ternura
Desenho afinal da quadratura
Círculo completo...
Ou, insondável enigma, se realiza em repleto
Em meio a vagalhões de prazer em fervura
Círculo incompleto
Universo nebuloso em expansão
Geometria analítica do coração
A fortuna em seu giro aberto.
O amor já foi desejo um dia
'Mystère de la vie'.
Maurício Muriack de Fernandes e Peixoto, Brasília, 11 de novembro de 2014.
(homenagem a Hilda Hist: - “Te olhei. E há tanto tempo/Entendo que sou terra. Há tanto tempo/Espero/Que o teu corpo de água mais fraterno/Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta/Olha-me de novo. Com menos altivez. E atento.” de Hilda Hist em: “Dez Chamamentos ao Amigo”, in “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão”, pg. 17)