um instante
o que esse sentimento, que assombra dia e noite
que me tira do sossego como um desprezo por mim mesmo.
toco-o com carinho, sua textura, pra serve, é útil?
caso seja, pra quê, pergundo meio envergonhado,
por que não se torna vento, poeira, pirilampo, noite
de encato, o pior medo é o medo do medo, falso,
porem verdadeiro na sua violência, apenas sobra
que nos afasta do verdadeiro medo, portanto da cura,
desse momento, que é amplo e belo, luminoso, mesmo
com a densidade desse encontro comigo mesmo, as
pernas, os olhos, o peito, ainda duro como uma
pedra, tudo isso sou eu, nem mais nem menos
que minha alma, corpo misterioso e desconhecido,
como estar em você sabendo que tudo isso sou eu?
imagino uma flor no deserto, não tem água, nem
neblina, apenas o sol assando a areia, e o tremendo
desejo de buscar outros ares, a flor, essa flor
que nasce no deserto e brilha a vida uma inteira,
bela, tênue, breve, colorida, mais amarela
que vermelha ou violeta, a flor viva na cabeça e nossa
esperança de também florescer