As palavras
Eu as recolho, lhes dou uma linha, elas correm
Dançam, brincam de mudar de lugar
Ora tem cheiro de verde,
Ora têm olhos de coração,
Sabor de hortelã, silencio de gente,
Cantiga de aves, barulho de rio,
Gostinho de infância, cheirinho de mãe.
Transmutam-se em um mundo de coisas.
Elas me chegam desgarradas,
Verbetes em profusão.
Tento prende-las, elas voam viram-se em brisa,
Pó de estrelas, caminhos de sois
E vão muito além das minhas mãos.
Juntam-se ao tempo
E ambos riem do meu querer!
As engasto no quadro de minhas memorias
E por vezes, quando eu as procuro
Elas se escodem,
Adentram a minha engrenagem de ferrugem
Se fecham entre as paredes da minha cachimônia,
Mas eu as persigo, aguço o meu faro,
Sou como um cão de caça!
Vou seguindo os seus rastros
Paciente, calado, em silencio,
Vou na ponta dos dedos
Adentro a sua colônia
E desnudo o seu núcleo lexical.