As palavras

Eu as recolho, lhes dou uma linha, elas correm

Dançam, brincam de mudar de lugar

Ora tem cheiro de verde,

Ora têm olhos de coração,

Sabor de hortelã, silencio de gente,

Cantiga de aves, barulho de rio,

Gostinho de infância, cheirinho de mãe.

Transmutam-se em um mundo de coisas.

Elas me chegam desgarradas,

Verbetes em profusão.

Tento prende-las, elas voam viram-se em brisa,

Pó de estrelas, caminhos de sois

E vão muito além das minhas mãos.

Juntam-se ao tempo

E ambos riem do meu querer!

As engasto no quadro de minhas memorias

E por vezes, quando eu as procuro

Elas se escodem,

Adentram a minha engrenagem de ferrugem

Se fecham entre as paredes da minha cachimônia,

Mas eu as persigo, aguço o meu faro,

Sou como um cão de caça!

Vou seguindo os seus rastros

Paciente, calado, em silencio,

Vou na ponta dos dedos

Adentro a sua colônia

E desnudo o seu núcleo lexical.

Edivaldo Mendonça
Enviado por Edivaldo Mendonça em 09/03/2020
Reeditado em 09/03/2020
Código do texto: T6883923
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