Sobre palavras e objetos

Aqui, na varanda sentado na minha velha cadeira de barbeiro que ganhei

do artista Waldomiro Santana.

Ela me conta tantas historias de quem já partiu para sempre;

histórias de gente que vinha e que ia,

historia de amores, traições de amigos,

negócios mal feitos,

histórias de gente e de gado;

Anos e anos de barbearia em barbearia desde meados do século passado.

Esta é a cadeira onde o artista recostava

pra descansar depois de um ardo dia de trabalho, misturando cores, recriando pássaros e lembranças,

Inventando amores.

Se me canso,

abro o meu livro de poesias Russas.

E eis que o poeta

Levguêni Vinokuróv.... me convence

plenamente de que os objetos são mais contundentes do que as palavras;

“ Eis aqui a pá que removia as cinzas em

Auschwitz “

E eu fantasio e acrescento declarando;

Eis aqui o rosto do homem que mandou matar e torturar Celso Daniel;

E, eis também as balas que mataram Mariele,

e estes são os rostos dos mandantes;

Eis a corda que apertou o pescoço de Vladimir Herzog;

as mascaras dos homens que fazem farra com o dinheiro dos impostos de quem os paga com o suor do rosto.

De repente,

a palavra resiliente

mostra que também tem força:

E declara imponente:

Eis aqui a manchete mentirosa do repórter.

sobre a conduta da gentil mulher do presidente.

Direita ou esquerda, centro;

O que importa?

Farinha do mesmo saco

Pó do mesmo caco.

Estamos falando de caráter, de compaixão-

diz a palavra.