Sem título III

arranca do meu peito

essa dor angústia

malabarista

em círculos

irrequietos infinitos

essa latência expurgante

comprimida sem ser

compacta sem ser

pequena sem ser

curta só longa

longamente

espreita as entranhas

da minha carne

essa dor lancinante

sibilante cantando

através do meu sangue

a mesma melodia

silenciosa e amarga

amarga o céu da

boca e o espírito

todo dia parece domingo

trancafiado dentro dessas paredes

acorrentado a sensação

física de dor de cada

bombear de vida

desse coração fraco

covarde solitário

triste incurável

arranca da minha boca

minhas amígdalas

minhas cordas vocais

já não tem por onde

o ar vibrar aqui dentro

desse corpo

casca velha vazia

sem alma sem

vontade de estar

de pé

arranca de mim

a dúvida a certeza

o medo a coragem

o sofrimento a felicidade

arranca de mim

eu mesmo

me faz sangrar

até não sentir

mais nada

disso

que chamam

vida

A H
Enviado por A H em 01/03/2020
Código do texto: T6878129
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