Sem título III
arranca do meu peito
essa dor angústia
malabarista
em círculos
irrequietos infinitos
essa latência expurgante
comprimida sem ser
compacta sem ser
pequena sem ser
curta só longa
longamente
espreita as entranhas
da minha carne
essa dor lancinante
sibilante cantando
através do meu sangue
a mesma melodia
silenciosa e amarga
amarga o céu da
boca e o espírito
todo dia parece domingo
trancafiado dentro dessas paredes
acorrentado a sensação
física de dor de cada
bombear de vida
desse coração fraco
covarde solitário
triste incurável
arranca da minha boca
minhas amígdalas
minhas cordas vocais
já não tem por onde
o ar vibrar aqui dentro
desse corpo
casca velha vazia
sem alma sem
vontade de estar
de pé
arranca de mim
a dúvida a certeza
o medo a coragem
o sofrimento a felicidade
arranca de mim
eu mesmo
me faz sangrar
até não sentir
mais nada
disso
que chamam
vida