P R E C I O S I D A D E S (201)
NÃO ME DEIXES
Debruçada nas águas dum regato
a flor dizia em vão
à corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes não ! "
"Comigo fica ou leva-me contigo
dos mares à amplidão;
límpido ou turvo te amarei constantemente,
mas não me deixes não !".
E a corrente passava, novas águas
após as outras vão;
e a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes não".
E das águas que fogem incessantes
à eterna sucessão
dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes não !".
Por fim desfalecida e a cor murchada,
quase a lamber o chão,
buscava inda a corrente por dizer-lhe
que não a deixasse não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
leva-a do seu torrão;
a afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não ! ".