CARTA AOS FÃS QUE EU NUNCA TIVE (E Nunca Terei)
I - “Essa luz no fim do túnel é…”
Não me sinto representado ou
representante...
não enalteço as mulheres
só as que eu quero.
E ao mesmo tempo não me
sinto “Homem”, nesse sentido
que a sociedade machista fica
querendo que eu seja
dificilmente me importo com
o que vão achar de mim.
Não sou bicha, não sou machão
Não sou transexual
nem viado nem veado
e nem mesmo, transviado.
Não sou concreto, imutável
não sou Símio, nem sou sapiens,
não sou planta.
Não sei direito o que é LGBT
não sei ser Preto com o
maiúsculo na letra “P”.
Nunca consegui dividir um planeta,
pobre, escroto...
mesquinho e miserável:
Em TRÊS mundos:
Eu só deixo viver...
Eu só deixo viver...
Se me deixam viver.
II - “um Foda-se cintilante...”
Não posso dizer que gosto
dos índios, porque eu
nunca vi um índio de perto…
mataram a maioria, eu sei
fica difícil.
Não sou 100% NEGRO.
E não compreendo
o que há de “Supremacia”
em ser “BRANCO”.
O caixão, o crematório
o cemitério está aí…
e é pra onde se vai...
Não tenho axé, não tenho malícia
não tenho gingado não tenho
charme de caralho nenhum
não tenho malandragem
e nem rebolado algum…
não tenho samba no pé
apenas chulé. Chulé. Chulé.
III - “O Poeta está nu”
Eu quero mesmo é enaltecer aqueles
desgraçados, bêbados, putas, errantes
espancados, estuprados, maltrapilhos
as loucas, loucos, a droga e o drogado
que perambulam nas ruas se sentindo
assim, deprimidos
100%, incrivelmente
e horrorosamente… Gente.