Pobre menino rico...
Quem és tu, minha pobre rica pessoa?
Que pensas ter, na barriga, alguma divindade...
Só tens no bolso o excesso que destoa
Entre o que desejas e a tua eternidade...
Tens a eternidade dos teus actos
se tiveres actos dignos de perdurar...
Caso contrário serão outros factos
a ditarem o segundo que a tua vida vai durar...
Não és o que tens ou o que acumulaste
Nem és o que para ti alguém acumulou...
És o que foste ou o que mudaste
na vida daquele que para ti trabalhou...
Tens dinheiro como quem tem sementes
Mas se não semeias à tua volta, nada te nascerá...
O teu ego come a par com os teus dentes
E, gordo e anafado, todo o teu valor se perderá...
Não és valia, não és exemplo nem és senhor...
Sabes o que vale o dinheiro mas não lhe sabes o sabor
Porque o sabor do que tens é fraco em penhor...
É fraco no testemunho de quem é rico em amor...
Sabes tu o que é amor?
Sabes tu o que é amar?
Conheces de uma dádiva, o valor?
Sabes ao que se refere o verbo PARTILHAR?
Abre os olhos, meu rico pobre menino...
Que a vida se apresta a findar
E as tuas obras não estão no feminino
que é o género que faz a vida germinar...
Tanto tens e nada tens, guardado no teu armário...
Tens o que muitos trabalham, e aquilo que te sobrou...
Tens o suor de quem mal come com o salário
que teimas em pagar a quem para ti sempre trabalhou...
Tens a grandeza da fama
que o teu dinheiro pode pagar
mas é uma grandeza sem alma nem chama
pois é-te outorgada por quem está a cobrar...
Da alma vem o que é autêntico e verdadeiro...
Até os sorrisos, têm lá o seu viveiro
Foge às glórias da retórica previamente feita
E começa a plantar, para poderes fazer colheita...
Não nasceu o mundo quando a ele chegaste
Ele já cá estava e aqui vai permanecer
Procura o Norte aonde o deixaste
E talvez o mundo ainda te queira conhecer...
Arrepia os teus caminhos
Muda o teu destino
Deixa legado para que não fiquem sozinhos
Aqueles que ainda pensam que és um bom menino...