Semente de abóbora
Desde a mais tenra idade
Colhe-se a abóbora rasteira
Bota-nos anos em fieira
Por toda eternidade
A cada calendário que acaba
É mais uma abóbora somada
E a semente seca e quebrada
Alimenta a jabuticaba
Viram os dias de sol a sol
Os girassóis vêm à tona
No pomar, em algum bemol
Endêmico, o pássaro da zona
A abóbora agrava a carga
Riem os amores-perfeitos
Ou como se tivesse defeito
Um esgar para a coisa amarga
Avalanches de abóboras
Desde que se engatinhava
Setenta anos entre as mangavas
O velho vergava-se de cócoras
Goiaba, manga e lima
Onde a abóbora era a seiva
O tempo montava a rima
O tempo passava à beira
Setenta e duas abóboras
Rolaram em aluvião
Só me resta esperar agora
Doce, em formato de coração
(agricultor de 72 abóboras)