Senhor Geraldo Menininho
Aquela altura da vida, ao olhar pra si,
já não se enxergava como antes,
(sua autoestima estava abaixo do chão).
Ele sustentava em seu rosto um sorriso amarelo, miúdo e introspecto,
tão desbotado e pálido,
quanto a sua incompreensão acerca das coisas da vida.
De tão cinza e sem graça,
só o silêncio lhe era companheiro em meio a escuridão de agora.
Até o espelho, mensageiro fiel do tempo, e seu velho parceiro da mocidade,
lhe recusara o semblante refletido.
Moído de dor, abaixou-se lentamente para não forçar a lombar e catou do chão os cacos caídos de sua imprecisão existencial.
Sem muito alarde, após estalar as juntas e o joelho no esforço para se por de pé novamente, ergueu-se, sacudiu a poeira e partiu para o centro da cidade;
foi ao Mercado Central de BH comprar gentilezas,
um pote de gel de tubarão para a latência nas pernas
e um galho de gengibre para o incômodo na garganta.