Um momento, um tesouro
Sentei-me num banco parcimônico
Era frio e pálido, o acinzentado
Tinha ele uma melancólica aparência,
Cheia de retos, de um passado serenoso
Sentei-me de alma esfomeada, alma faminta
Sob um teto azul esbranquiçado
E procurei no ermo das palavras
Aquelas, cheias de letras indecodificadas
Venham-me poemas, cerquem-me poesias
Pois o sol já alumia e a noite foi-se fria
A vida ia junto e também ficava
Do pio do pardal ao canto da cigarra
Queria aquelas palavras, aquelas outras
Que nunca as ouvi, que nunca as li
Porque todas as letras formam um mapa
Para um tesouro cheio de poesias
Palavras formam esmeraldas
Jacintos em forma são letras
Frases de diamantes coloridos
E ametistas feitas de pontuações
Há advérbios de topázios imperiais
Verbos de turmalinas lindas
Vi rubelitas tão predicadiais
E águas marinhas ainda não ditas
Era tudo um momento, era tudo um tesouro