Rio
Curvas de mistério
Então eternas e entalhadas
Na cicatriz profunda
De um vale, puro acaso
E pelos sulcos e cicatrizes
Uma fonte pura e máxima
Enfim, através e sobretudo
Constantemente
O rio.
Embora vagaroso
O rio leva tudo embora
E quando o tempo é pressa
O rio é gota, sem demora
A dura seca e a farta enchente
Nas suas faltas e abundâncias
E não obstante um vestígio
Uma lágrima escondida
O rio.
Águas brandas, águas bravas
Águas brancas, águas breves
No seu aguar e desaguar
O rio é um milagre singular.
Suas águas são totais
E imenso é meu olhar
Que liga do princípio ao fim
Num caminho infinito
O rio.
Eu repouso meus olhos cansados
De quem já viu muitas guerras
E o rio lava minhas feridas
Com a bondade de um Deus
Que absolve um mortal
De seus pecados.
Ele dentro de mim
E eu dentro dele
Ele me leva sem destino
O rio.