FEROCIDADE

O retrato que eu te dei

era da minha alma de viajante,

porque já não sou!

e me bate no peito

a dúvida de uma saudade

que permanece além do homem

Vejo na praça apenas a espera

sedenta do injustiçado,

a manhã não traz mudanças

a ordem porém não resiste

aos passos da ousadia,

é preciso saltar muros

com avidez,

espiões ocultos no olho fixo

do pássaro sabem, só

a primavera é solitária

só o desejo incendeia a sombra,

a rua responde ao grito

com esquecimento

Esqueça regras e discursos,

a hora exige ironia e blasfêmia

reconheça na estrada

a profundidade da alma,

na ruína além da dor

permanece a lenda

pois a ferocidade do caos

mantém na ativa

o porteiro do inferno