Procura-se: um EU
Tanto tempo sem escrever
que nem sei se as palavras vão sair
tá tudo aqui
dentro da minha guéla
quer sair
se expor ao mundo
eu me contorno de dor
de ódio
de vontade de sentir
e de mostrar aquilo que sinto
isso não é um poema
é um confessionário
não falo meus pecados
falo do sofrimento que eu sofri
para estar aqui
do pó eu vim e com barro me moldei
eu me sentia no filme Clube da Luta
eram dois eus que brigavam
um queria uma coisa
o outro queria o oposto
levei soco no olho até meu olho arder
até minha cabeça querer sair do pescoço
eu gritava de agonia em silêncio
e ninguém parecia ouvir
nem tinha como
eu era um mudo comunicando uma dor
um mudo que não sabe libras
agora eu enxergo
finalmente eu saí
da caverna cheia de sombras
com aparências que eu sabia que não era eu
que eu insistia em dar um nome
dar uma imagem
uma forma
finalmente vi o que me faltava
a liberdade para ser qualquer coisa
para ser e não ser
para parecer e não parecer
quando quiser e quando não quiser
sinto que se um dia eu terminar de pintar o meu próprio quadro
eu morro de desgosto
porque o que motiva a minha vida agora não é o fim
é o eterno recomeço
eu não tenho mais nenhuma forma
a superfície deixou de ser meu lugar favorito
nem por isso eu me escondo
nem por isso eu deixo de ver a luz do sol
é só que eu encontrei minha própria fonte de calor
e tudo acontece de dentro pra fora
hoje eu conheço o mundo
segundo o meu próprio mundo
eu sou
eu existo
pela primeira vez em muito tempo
eu posso falar isso.