Pai

Dá-me tua mão, meu pai, conduz-me na vida...

Agora que te encontrei, não te afastes de mim.

Que criança ainda sou, embora crescida,

E sinto meu pé vacilar na caminhada sem fim.

Ah, paizinho, que falta me fizeste

Enquanto eu vagava perdida no mundo!

Mas a mim a misericórdia celeste

Reservava um contentamento profundo...

Que, transpondo o vale assombrado,

Na busca por harmonia,

Meus pés conduzissem-me, um dia,

À bênção do teu cuidado.

De tua voz vou aprendendo lições

Que esclarecem e arrimam minh'alma.

E tua simples presença me acalma,

Renovando-me as emoções.

Se me orientas, caminho mais firme,

Teu sereno olhar confiança me traz.

Tuas exortações fazem que eu me anime,

Levando-me a crer que devo ser capaz.

Um presente eu vinha buscar

Nesta terra, sem ter consciência.

Agradecida, bendigo a existência

Que não cessa de me agraciar.

Ah, quanto sou grata a Deus

Pela dádiva da reencarnação,

Que transforma a ilusão do adeus

No júbilo da (re)união,

Ainda que apagando a trilha

Da lembrança que se esvai.

No entanto, se tudo isso

É mero engano da intuição

Não valem menos, por causa disso,

O afeto e a admiração

De uma enternecida filha

Por um generoso pai.