Palafitas
A água que passa
Por debaixo dos meus olhos
Entre as frestas das madeiras
Podres, escuras e mofadas
Leva vida que já é morta
Pratos, copos, bonecas
O que cai das palafitas
Já não tem mais serventia
Para quem deixou cair.
A água que passa
Por debaixo dos meus olhos
É um mar de utilidade,
Para mim,
Criança pobre
Piabas, piabas, piabas a nadar
Não sei mais o que buscar
Vida viva ou vida morta
Eu só penso em brincar
Criança pobre, da favela
Dos alagados,
Palafitas a sonhar!
Piabas, piabas
Tragam para mim,
Tudo para eu brincar!