LOBOS NO EXÍLIO
O indivíduo da velha estirpe que se protege do novo como quem se abriga do frio...
O moribundo que celebra a vida em óbvia perspectiva...
O pecador contumaz que não sente vergonha e tampouco remorso...
O gentil marido suicida da mais bela esposa que um dia fugiu sem nenhuma razão...
A mãe que dá a luz ao caos mas dele tenta se ocultar...
O jovem que inicia o fim antes mesmo deste chegar por completo...
A esposa do ferreiro que lança sua sorte à floresta e nunca mais volta...
O perdedor em tudo que só foi feliz no jogo do isolamento...
O capataz apressado que perdeu a vida entre cascos e terra úmida...
A virgem vestal que devorou o oráculo por medo e libertação...
A rainha de copas que sobrepujou o reino dos entorpecidos e cruzou as fronteiras com a neurose total...
O dono do gato envenenado que teve sua vingança numa poça de sangue e miolos pisados...
O médico que morreu junto ao seu paciente bradando aos céus por mais um pouco de tempo...
O colecionador de borboletas que viu seu tórax aberto num assalto assim como aquelas que pereceram sob seus pregos e cortiças...
A madame nunca cortejada que espancava a criada por sua beleza insultante...
O velho analfabeto que colecionou recortes de crimes até estampar um deles...
A puta que morreu na maca do Hospital Saboya depois de trocar facadas com o namorado...
O seminarista gay que preferiu sepultar a existência em prol do protocolo familiar...
Todos eles...
Arredios
Maus ou complexos por demais
Desesperados ou resignados
Silenciosos num interno clamor
Vencidos em batalhas parciais
Comedidos na fúria por imposição
Sanguinários aplacados por um sistema indefinido
Loucos aprisionados em corredores esquecidos
Agentes do caos destituídos da função
Caçadores sem presa definida
Arqueiros sem alvo
Criaturas vis que não obedecem
Seres revoltos que nunca aquiescem
São todos lobos...
Lobos no exílio
Lobos num exílio.