DESPARAFUSANDO
Sou poeta
pois consigo enganar o suor das estrelas,
as texturas do medo,
o vai e vem da saudade.
Sou poeta
pois acaricio as nervuras do querer-bem,
as ferrugens da ternura,
o requebrar enlouquecido do amor.
Sou poeta
pois me refaço na inquietude do desejo,
na embriaguez confusa da dúvida,
no salpicar assustado da certeza.
Poderia até dizer que sou poeta
pois desafio a morte da verdade tingida,
pois sacudo varandas sem acordar a dor,
pois me desparafuso sem esfriar minha fé.
Por tudo isso me faço poeta descarado, desnudo,
pronto pra desfolhar os palcos da vida
pronto para parir os passos roucos,
pronto pra servir as querelas do talvez,
pronto pra cumprir o legado sem razão,
pronto pra amar almas que untarem por aqui.