Solidão
Sou dor, sou laço, acantoado sou nó.
Além da conta, sou doido.
Além das rugas, mais um pouco, sou louco.
Sem pressa mas em fuga, me lambuzo
na paz de uma cumplicidade profunda.
Sou de tudo, de tudo não tenho nada,
só um mar de saudade,
só um pouco do mundo,
mundo que passa, e ninguém ver,
o que foi ou vai que pelo ralo,
como água que não para,
que some em terra seca,
que come, bebe, acerta, erra,
sobe e desce sem perceber o lado a seguir,
se da paz ou da guerra,
se do perdido,
que se foi sem avisar,
se do medo de desistir
ou da coragem de enfrentar.
Por isso, solitário bailo na loucura de um só grito.
Sou grito. Grito, ralho, brigo e danço só comigo,
num giro que gira em torno de mim mesmo,
sem rumo, sem paradeiro, a esmo.