Casas Velhas
Casas Velhas
Gosto de olhar casas velhas e antigas
Quando ando pelas ruas e vielas
Fico sempre a observar e tanto me instiga
Ver a fachada dessas casas do tempo sentinelas...
Algumas têm varanda de um lado,
Com dois ou três vigotes coloridos subindo em diagonal
Com aquelas portas de entrada com janelinha com arcos enrolados
E com piso de cerâmica vermelha em tom desigual...
As vidraças das janelas dos quartos abertas apoiadas em borboletas de metal
E as folhas das janelas presas por carranquinhas cabecinhas de anjos...
As tintas descascadas das paredes e com sinais de bolor em geral,
Com alguma casa de marimbondo pela cumeeira em desarranjo...
Aquelas casas velhas com telhados de quatro águas, outras de duas águas
Com telhas francesas já criando musgo em alguns pontos
E com sinais de goteiras escorrendo pelas paredes como se fossem mágoas
Que o tempo resolveu marcar sem dar qualquer desconto...
Aquelas casas antigas com quintal em toda volta,
Cheio de plantas já mal aparadas dum jardim desconforme,
Com aqueles vasos de cimento e jardineiras com samambaias em revolta...
Às vezes com algum anão de jardim, um Rumpeltiltskin disforme...
Aqueles muros baixos vazados com arcos de estrelas
E um portão de grade de ferro que range só com o vento,
E assim diante da casa fico, por uns instantes parado, a vê-las
Para a imaginação que já as povoa de histórias num flash virulento...
Casas velhas antigas, com jeito de abandonadas
Ou ocupadas precariamente por alguém com semblante de passado
E fico a pensar, nas horas de alegria ou de dor ali consumadas,
Como que vejo fragmentos do passado, frases avulsas, imagens suturadas...
E me vem à alma um desejo profundo, desconcertante
De ser muito rico e poder comprar todas elas
E reformá-las e dar nova vida às paredes, telhados, portas em instantes,
Para alegrar os fantasmas que vagam ali e me olham sorrateiros pelas janelas...
Esses seres meio fanstamagóricos, meio mitológicos
Que os romanos denominavam de Lares e Penates,
Com seus símbolos cabalísticos e astrológicos
Esperando ali, nessas velhas casas, os seus resgates...
Fico profundamente tristonho, cabisbaixo, desconsolado, de uma dor doída...
Quando retornando a ver uma dessas casas sem remédio
Vejo que estão condenadas, tem vezes que até já demolidas
E uma placa colorida de arquiteto anunciando o projeto dum prédio...
Um prédio de apartamentos, quadrados, de linhas altas e retas,
Ou alguma construção de casas geminadas em seqüência,
Ou ainda algum salão comercial, amplo, denunciando nas setas
Os meios de financiamento bancário e o esquecimento de tantas vivências...
Aí como que sinto ao ver entre ruínas as paredes internas de quebrados azulejos
Fragmentos de retratos e calendários colados nos restos de paredes
Como que sinto e de relance eu penso mesmo que vejo
Esses espíritos caídos vagando em direção ao abismo sem redes...