Desgoverno

às vezes choro como uma porta velha,

meus dentes rangem como um carro de boi.

curvo meu corpo junto ao portal da sala

para que você não trespasse o vão

o silêncio parece um ruído distante,

o vento traiçoeiro soluça aos berros.

me calo atordoado com tudo

é o meu mundo que está mudando

lá fora, do outro lado da rua,

o menino esfarrapado está faminto

não sei se cuido dele ou se cuido de mim

tudo é tão estranho e tão denso

nada é tão grande que eu não possa ver,

nada é tão louco que não possa sonhar

eu, você e o menino, pra onde vamos?

para onde nos levam os homens de hoje?

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 08/10/2007
Reeditado em 13/04/2024
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