Ah se eu tivesse forças para desertar
Ah se eu tivesse forças
As palavras seriam troncos
E ramos, sustentadas por raízes fortes
Seria fustigado pelo vento
Mas morreria de pé…
Se eu desertasse como as folhas
Voaria ao som do vento
Partiria sem ter tempo
E morreria no chão
Ali, pisado sem memoria do que fui
Verde, frágil, amarelado, dourado
E livre, pro uma fracção de tempo
Por um efémero momento
Feliz…
Ah se eu tivesse forças para desertar
Arrancava-me do chão e partia
Pelo deserto árido, onde me mora o oásis…
E aí… aí me enterraria no chão e podia morrer feliz…
Ah se eu tivesse forças para desertar…
Não seria poeta, mas um homem qualquer…
Sem palavras e sem memória…
Alberto Cuddel
01/02/2020
19:19
In: Nova poesia de um poeta velho