VIVER EM DESESPERO

Miserável é o viver em desespero...

E assim se vive aos montes, frugalmente e com pompa à enfeitar a fruta decomposta

Adquirimos vestuário pra fingirmos elegância no baile do abismo mais negro

Posamos educação pra despertarmos simpatia naqueles à quem oferecemos migalhas

Comemos pra esquecermos que existimos

E nos alimentamos como ursos pra engordarmos e mantermos provisão pro inferno

E no verão nos exibimos como pavões no cio

Dançando em desespero de novo...

Elogiamos com punhais nos bolsos e glorificamos ídolos com os joelhos sangrando

Somos condescendente com genocidas e relativizamos o horror

Vivemos em conluio com o vil, comungando com as moléstias

E nos perguntamos ocasionalmente porque tanto furor num mundo tão estranho...

O desespero nos fez cínicos

Andamos e arfamos numa estrada sem fim...

E finitude é um conceito que reprovamos

Tudo nos é eterno e nada acaba

Só nós mesmos...

Mesmo negando isso... em absoluto desespero

Colhemos frutos podres e continuamos plantando as mesmas sementes

Varrendo o chão como condenados e lustrando nossos egos até eles cintilarem num brilho fosco e distorcido

Oramos sob a tempestade mas pregamos no deserto

Amamos com rapidez e queimamos igualmente

Numa pálida chama desesperada.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 05/02/2020
Reeditado em 05/02/2020
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