VIVER EM DESESPERO
Miserável é o viver em desespero...
E assim se vive aos montes, frugalmente e com pompa à enfeitar a fruta decomposta
Adquirimos vestuário pra fingirmos elegância no baile do abismo mais negro
Posamos educação pra despertarmos simpatia naqueles à quem oferecemos migalhas
Comemos pra esquecermos que existimos
E nos alimentamos como ursos pra engordarmos e mantermos provisão pro inferno
E no verão nos exibimos como pavões no cio
Dançando em desespero de novo...
Elogiamos com punhais nos bolsos e glorificamos ídolos com os joelhos sangrando
Somos condescendente com genocidas e relativizamos o horror
Vivemos em conluio com o vil, comungando com as moléstias
E nos perguntamos ocasionalmente porque tanto furor num mundo tão estranho...
O desespero nos fez cínicos
Andamos e arfamos numa estrada sem fim...
E finitude é um conceito que reprovamos
Tudo nos é eterno e nada acaba
Só nós mesmos...
Mesmo negando isso... em absoluto desespero
Colhemos frutos podres e continuamos plantando as mesmas sementes
Varrendo o chão como condenados e lustrando nossos egos até eles cintilarem num brilho fosco e distorcido
Oramos sob a tempestade mas pregamos no deserto
Amamos com rapidez e queimamos igualmente
Numa pálida chama desesperada.