auto estima
três covas eu cavei pra meu amor. agora só preciso conhecer o seu rosto. quando joguei a primeira parte do corpo, vi que seus pés andavam pelos mesmos caminhos tortuosos que eu conhecia, vi espinhos e rosas, barro e feridas. mas eu não me importei, era apenas uma cova para uma parte do meu amor desconhecido. na segunda enterrei seu coração, e vi que assim como eu aquele músculo era incessantemente inquieto, batia tão rápido que nem a luz daquele recinto fugia, meu amor desconhecido sempre esteve no escuro comigo. mas não me importei de enterrar aquilo, já que não era eu, aquele é meu amor desconhecido.
por último enterrei seu cérebro, com todas as lembranças e emoções que espelhavam as minhas. desesperei-me. me joguei na terra. escavei. enterrei. até que achei. o rosto daquele que eu estava prestes a enterrar. nas minhas mãos um espelho. no chão. minha tragetória. meus momentos. minhas lembranças. e em um minuto de silêncio, finalmente encarei o rosto belo e surrado do meu amor desconhecido.