Prelúdio

Preso à minha imagem

E sob mundo aos meus pés

Me disperso apressado pela cidade obscura

Amanhã já é dia! Vamos todos

Reunidos em nossas mesas

Em olhares dispersos e as mãos que desconhecem o segredo

"Mas qual?" Perguntas

Não importa. É a nossa historia que se mistura

Aos quadros da sala

Enquanto as nuvens morrem

E a verdade, despercebida

Habita os corpos e as mentes que a desconhecem

E tudo o que vejo é delírio

A luz que contemplo em miragem

Tal como a arte naufraga

Canta em teu rosto pálido

O teu desejo cansado

Já pelos dias futuros e os becos sem vida

E esses versos que declamas

E dispersa a alma nesses teus lábios mórbidos

Nada conheces, a não ser

A tua sina e a tua cama por onde o sol não entra

E observa pelo espelho esse caminho morto

E esses olhos vazios que contemplam

o que ainda não existe

Só em tua palavra quando diz a mim

Que o amanhã é um novo dia

E vejo o desespero em teus cabelos

E o abismo a que fitas assim, tão calmamente

Mas nada me dizes

Não me amas?

Não, não. Não diga nada

Não pensa pois, em nada

Nem me ame mais

Em cartilhas, em corações rasgados ou mesmo

Em teus ossos

Não pensa, pois, em nada

Não há amor ou sequer história

Há somente pássaros que rastejam

Há tempo de ir e de vir

Como quem espera,

Sento-me num banco de pedra em um temporal,

Que arrasta as folhas

E aguarda ansiosamente pelo agora

E os dias apagam-se

Dizem-me todos que tudo está perdido

Que podemos fazer?

Que poderemos dizer?

Observe calmamente esse firmamento

Como emerge da terra e arrasta os teus pés que tremem

Tremem de medo, que não se revela

A tua imagem de medo nas paredes se ocultam, por medo

Afogas

Sobre as margens do pântano, que as ondas arrastam

Tal pedaço sem vida

Observe então, esse firmamento

E sob um céu em destroços me deito

De joelhos sob esse céu de destroços, me deito

E sob esse céu de destroços

Me ajoelho

E choro

Oh andorinha

Andorinha

Sobre teus escombros escorei minha ruína

Nós já perdemos a hora e estamos atrasados

O que aconteceu? Ande comigo

Pelas vielas, esses tristes castelos esses sonhos empilhados

Aqui onde não precisamos de nada

A cidade morre e as venezianas que empurro

nas gavetas, tudo foge

Do bom senso

Desses teus longos cabelos cor de mel

Vamos nos sentar sobre a porta e aguardar

Com nossos olhos já cegos

E nossos corações aquecidos

A chegada da nova estação

E quando já for tarde e as multidões

De gente sem corpo nem olhos

Arrasadas pela chuva e pelos dias

Já transpassados, sumirem

Em abraços fortuitos

Eu me entregarei a Ti

Mas pare, pare, vamos lá

Olha, pois, não há nada

Há no lugar do tempo, a história

E no lugar da verdade, a beleza

Todos nós estamos naufragados

Um dia poderemos cantar em harmonia

Que podíamos querer?

O que podíamos fazer?

Que corremos pelo mundo e caímos naufragados como já estamos? Naufragados

Toda a vida e toda a história naufragam

E os cadáveres sem sonhos flutuam em nossas salas

E em nossos quartos, enquanto amamos e nos sentimos

Lentamente

Naufragados

Wilde
Enviado por Wilde em 01/02/2020
Código do texto: T6855913
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