Palavras que precedem uma bebedeira
Preciso urgentemente de uma bebida
Ou não conseguirei escrever as linhas que se seguem,
E sem escreve-las
Não sei se consigo passar por mais essa noite.
O ócio tomou conta de algo que nunca tive
E por isso sinto a falta desse algo.
Já não mais consigo arrastar meus dedos pela tela do celular,
Já não mais consigo fechar os olhos
Acordado
Tenho vivido constantemente meus dias fugindo deste estado
Bebendo
Ou arrastando meus dedos pela tela do celular
Observando uma formiga que caminha perdida,
As pessoas nas ruas que caminham perdidas.
Não observo minha perdição.
Já não mais consigo me encarar no espelho
Sem pensar na falta de sentido em tudo isso.
Uma criança me encara enquanto caminho.
Minha visão não tem muito mais sentido que a dela.
A mesma faca que degola uma garganta e fura um coração,
Corta o pão que como pela manhã,
Tira a vida e some com o sofrimento,
Auxilia o sustento dela e perpetua essa dor.
O meu grande erro é amar a vida.
Amar consequentemente, essa faca perpetuosa que tanto odeio.
Meu erro é não olhar os prédios
Como simplesmente prédios,
Seus apartamentos
Simplesmente como apartamentos,
As pessoas
Simplesmente como pessoas.
Nada é simples.
Nada é simplesmente nada
E sempre que tento me convencer do contrário,
Sempre que tento pensar na realidade como algo irreal
Tudo complica mais um pouco
E eu acabo bebendo alguma coisa
Ou escrevendo linhas disléxicas como essas.
Não posso mais olhar para o horizonte.
Digo, não tenho coragem de olha-lo.
Não enquanto sei que o estável horizonte que meus olhos enxergam
Causam uma enorme instabilidade naquele que não vejo.
Ou melhor, que penso não ver.
No final, pensar tem a inexplicável clareza além da matéria,
E meu erro é odiar a escuridão,
E ter nascido com a infeliz dádiva
De não olhar para o universo como simplesmente o universo,
O mundo como simplesmente o mundo,
De olhar para mim
E não compreender nada.